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  • ‘Diversidade é nossa riqueza, mas inclusão é o desafio’, diz empreendedora

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    Para Andrea Schwarz, que promove acessibilidade digital e inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho, empresas devem olhar a diversidade como investimento, não custo

    Ludimila Honorato, O Estado de S.Paulo

    05 de março de 2021 | 14h00

    A partir daí, nasceu a iigual – Inclusão e Diversidade, uma empresa de serviços voltados à inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho. No ano passado, ela deu início à startup EqualWeb, que oferece soluções de acessibilidade digital. Ao longo desses mais de 20 anos atuando no setor, Andrea possibilitou a entrada de 20 mil profissionais em cerca de mil empresas e deseja, cada vez mais, ampliar o olhar sobre o tema da inclusão. “Nunca perguntei se meus sonhos são possíveis, mas se são suficientes.”

    Uma das formas que encontrou de naturalizar a vida de pessoas com deficiência foi fazer vídeos do próprio dia a dia no Instagram. Com quase 80 mil seguidores na rede social, ela e o marido, Jaques Haber, fazem encenações divertidas e instrutivas sobre a vida em cadeira de rodas. “É uma superexposição, mas para normalizar algumas questões.” Em entrevista ao Estadão, Andrea conta sobre seu início como empreendedora social, a forma como encara o olhar enviesado da sociedade e a percepção que tem sobre inclusão e diversidade.

     

    Andrea Schwarz sentada no chão com vestido bege e apoiada com os braços em sua cadeira de rodas

    Andrea Schwarz, de 44 anos, é fundadora da iigual – Inclusão e Diversidade, empresa que oferece soluções para incluir pessoas com deficiência no mercado de trabalho. Foto: Dani Izidoro

    Pode nos contar um pouco sobre quando a iigual nasceu e sobre o trabalho que você vem desenvolvendo?

    Eu tenho um empreendedorismo com propósito. Quando eu tinha 22 anos, me tornei uma pessoa com deficiência, adquiri nova condição, mas percebi que a Andrea era a mesma pessoa, e a sociedade me via de forma diferente e enviesada. Percebi também que eu não me sentia representada em diversas posições na sociedade e isso ficou muito claro quando tentei sair pela primeira vez na rua de cadeira de rodas e vi a falta de acessibilidade e o que isso causava de impacto na minha vida. A cadeira se tornou aliada e, ao contrário do que muitas pessoas pensam, eu vivo com minha deficiência e não apesar dela.

    Em 1998, fiquei na cadeira de rodas e em 1999 já estava com um ativismo, entendendo que essas questões de não me ver representada eram maiores. Escrevi um guia que era disruptivo para a época, porque a pessoa com deficiência consome, pode trabalhar e ocupar diversos espaços, enquanto a sociedade toda hora quer colocá-la em uma caixinha. Do livro, surgiu a iigual e minha história de empreendedorismo com propósito. Falo de inclusão porque vivo essas questões.

    Se a gente parar para pensar, representatividade é a base da autoestima e isso me motivou, desse marco do guia até agora, a ter 20 mil pessoas com deficiência empregadas em cerca de mil empresas, a ser a primeira mulher com deficiência no LinkedIn Top Voices. A sociedade quer saber mais, ter esse letramento e quando a gente para para pensar em inclusão e diversidade, inclusão é o desafio.

    Ao longo desses anos da iigual, quais mudanças você viu e quais desafios persistem?

    Tem muito o que avançar ainda. Tenho 22 anos de cadeira de rodas e a gente ainda é muito capacitista quando subestima ou supervaloriza alguém em função da condição dela, da deficiência. Dentro das organizações, ainda é capacitista, porque não enxerga além da deficiência e acha que está fazendo favor com política de cotas. Até na sigla PcD, o P vem antes do D, mas é só o D que fica.

    Esse capacitismo limita as pessoas com deficiência, para o tipo de posições que vão ocupar na sociedade, mas o problema está na estrutura, não na pessoa. É preciso migrar de um conceito médico para um conceito social. O que não dá é deixar dentro de uma caixinha. A minha vida de empreendedora que vive a questão é lutar pelos muitos ‘nãos’ que recebi ao longo da vida.

    E como a EqualWeb nasceu e está relacionada ao seu trabalho?

    A EqualWeb é uma startup recente, nasceu durante a pandemia, e também é uma tecnologia com propósito, de acessibilidade digital, uma tecnologia israelense. Tem tudo a ver com o que a gente já fazia e muito disso tem a ver com minha história de vida. Acessibilidade é uma forma de incluir, ela aproxima pessoas, e quando a gente foi para Israel conhecer diversas startups, a EqualWeb chamou atenção. No Brasil, apenas 1% dos sites são acessíveis, então a informação não chega para todos. Acessibilidade não é só colocar rampa, é tecnologia também, então faltava investir e trazer para a sociedade e empresas essa tecnologia.

    Em seus discursos, você fala ‘inclusão e diversidade’, não ‘diversidade e inclusão’, como vemos com mais frequência. Por quê?

    Diversidade é nossa maior riqueza, mas inclusão é o principal desafio. A gente vê que não inclui ainda e, quando analiso indicadores, as pessoas com deficiência estão na base da pirâmide. Empresas interpretam a lei de cotas como favor quando deveriam encarar como investimento, não custo. Quanto mais plural e mais diverso, mais lucro, porque inclusão gera pertencimento, autoestima. Mas as pessoas de grupos minorizados não assumem papéis por vieses inconscientes. Quando a gente olha essas questões, que são estruturais, a luta pela igualdade, das pessoas com deficiência, é importante falar de capacitismo.

    Você costuma dizer que, mesmo em cadeira de rodas, gosta de usar salto alto, e as pessoas não entendem. Como você encara isso?

    Foi um dos posts meus que mais viralizou, em que coloco uma foto minha super arrumada e falando que não entendo por que não posso usar salto. Fiz esse post pela primeira vez entrando no cinema e ainda brinco que tem várias vantagens de usar salto, que ele vira um investimento porque vai durar para sempre, já que eu não piso no chão. Lembro que meu marido falou: “você está derrubando o LinkedIn”. Quando eu fui ler depois os comentários, pude concluir que o salto é um símbolo de empoderamento feminino, quando olham uma mulher com salto, é muito forte. Mas esse não é o lugar que eu fui imputada. “Ela está saindo da caixinha de gênero e PcD”, “como ela pode ser dona do estilo dela?”.

    Falo isso muito forte: meu lugar é onde quero estar. Vou ser dona do meu destino e sou protagonista da minha história. Quando me exponho nas redes sociais, penso que eu teria maiores ganhos, porque ao mesmo tempo é uma superexposição, mas para normalizar algumas questões. Outro post que viralizou durante a pandemia foi quando comecei a fazer a limpeza da casa. Fiz um reels varrendo, arrumando a cama. Algumas pessoas me tornam uma super-heroína por limpar minha casa, mas fazendo desse jeito elas estão sendo preconceituosas. Na supervalorização, finge que a deficiência não existe, como se a deficiência fosse um motivador para as pessoas saírem do sofá. O que tem de motivar as pessoas não é minha deficiência, mas o que eu fiz com ela.

    Andrea na cadeira de rodas com as pernas cruzadas fechando a sua sandália.

    ‘Concluí que o salto é um símbolo de empoderamento feminino, mas esse não é o lugar que eu fui imputada. Falo isso muito forte: meu lugar é onde quero estar’, diz Andrea Schwarz. Foto: Dani Izidoro

    E você recebe retorno de muitas mulheres também?

    Sim, no meu Instagram, 98% dos seguidores são mulheres e ali eu falo mais da Andrea do dia a dia. Falo da questão de vaidade, dores, anseios, maternidade, empreender, pandemia e como toda mulher não tem diferença. Claro que em algumas coisas eu preciso de ajuda, mas quem não precisa? Eu mostro um lado da Andrea que, apesar de uma adversidade, transformei em uma grande oportunidade. Tive um olhar empático comigo mesma. Antes, eu tive um processo interno de aceitar minha condição. Teve processo de dor, mas ao longo do tempo, a gente vai entendendo porque essas coisas vão acontecendo e que a gente não controla tudo.

    E como tem sido esse quase um ano de quarentena para você?

    A pandemia, de alguma forma, é uma adversidade, mas que pode ser analisada pelos pontos positivos. Tive oportunidade de conviver mais com meus filhos, todo mundo teve de ajudar em casa, cozinhar, fazer mil coisas. Foi o desafio de conciliar vida pessoal, trabalho, agenda da casa. E me vejo cansada muitas vezes, fiz muitas coisas sem sair de casa. Estou bem isolada porque sou do grupo de risco. Mas eu nunca cancelei tanta viagem na minha vida (ela ri). Sempre viajava de três em três meses e foi um choque. Para mim, são muito importantes as viagens, conheço culturas diferentes, vejo como cada cultura encara a deficiência.

    Se você puder enviar uma mensagem às mulheres que têm alguma deficiência e querem empreender, qual seria?

    Eu nunca perguntei se meus sonhos eram possíveis, mas se eram suficientes. Aceitar, ter amor próprio, acreditar em você mesmo é muito importante. Não se deixe levar por uma sociedade que te coloca num padrão. É ir atrás dos sonhos, ser protagonista da sua história, viver o aqui e o agora. A deficiência trouxe muitas coisas boas, fiquei mais consciente do meu papel, acho que de verdade o tempo muda muita coisa, mas a essência permanece a mesma. É uma jornada de autoconhecimento, amor próprio e de ir em busca dos sonhos.


A EqualWeb é uma das soluções líderes globais em acessibilidade digital. Há 8 anos, vem tornando sites e conteúdos digitais acessíveis para pessoas que possuem alguma necessidade ou dificuldade específica para navegar na web.

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